Capítulo 5 — "Entre conversas e silêncios"
A semana seguinte à chuva parecia mais leve. O campus ainda estava molhado em alguns pontos, mas o clima estava mais ameno, e as árvores tinham aquele cheiro gostoso de terra molhada misturado com flores de outono. Era como se tudo tivesse desacelerado um pouco — inclusive Nicole.
Ela chegava mais cedo nas aulas, andava menos apressada, e às vezes, mesmo sem perceber, olhava pelos corredores procurando Nick. Não era algo consciente. Era mais como uma expectativa silenciosa. Um costume novo.
Do outro lado, Nick estava igual. Mesmo com a rotina corrida dos veteranos, ele se pegava pensando nela nos momentos mais aleatórios — tipo enquanto esquentava miojo no micro-ondas da sala de design ou enquanto escutava música no intervalo.
Na quinta-feira, após uma aula longa de semiótica, Nicole saiu da sala coçando a cabeça.
— "Não sei se meu cérebro entendeu ou só desistiu de tentar."
Foi quando sentiu alguém cutucar seu ombro. — "Você sobreviveu. Isso já conta como vitória." — Nick sorriu, apoiado na parede.
— "Você me persegue ou tem um radar específico pra quando eu tô surtando?"
— "Os dois. Mas se te consola, eu também saí de uma aula que parecia ter sido dada em aramaico."
Nicole riu e, sem dizer nada, começou a caminhar com ele ao lado. Os passos eram calmos, como se ambos soubessem que não precisavam ir pra lugar nenhum com pressa.
— "Ei, tô indo pegar café. Quer vir?" — "Se for do bom, sim. Se for daquele da máquina, não." — "Então é sim. Tô com sorte hoje."
Eles seguiram até a cafeteria do campus, pegaram os cafés e se sentaram num banco de concreto no pátio, onde a luz do fim da tarde dourava tudo ao redor. Era um daqueles momentos que pareciam pequenos demais pra serem importantes — mas eram.
Nick abriu o caderno dele e mostrou algumas ideias de um projeto. Nicole se interessou logo. — "Você realmente desenha tudo isso?" — "Desde sempre. Mas nunca mostro pra muita gente."
— "Por quê?" — "Acho que é meio íntimo. Tipo mostrar uma parte que eu não sei se as pessoas vão entender."
Ela ficou em silêncio por um instante, depois olhou pra ele. — "Eu entendo."
A resposta foi simples, mas carregada de significado. Nick olhou pra ela de volta, e por um breve momento, houve silêncio entre os dois. Mas não era um silêncio desconfortável. Era cheio. Quase denso.
Ele desviou o olhar com um sorrisinho. — "Você é meio diferente, Nicole."
— "Você também, Nick."
Eles continuaram ali por mais um tempo, falando sobre nada e tudo. Rindo de piadas internas que começaram a surgir, dividindo o fone de ouvido pra ouvir uma música nova que Nicole tinha descoberto. O sol descia devagar no céu, deixando os dois envoltos numa luz dourada.
Enquanto Nick falava sobre um antigo professor esquisito que sempre usava meias de banana, Nicole observava a forma como ele gesticulava, o jeito que os olhos dele ficavam levemente semicerrados quando ria. Algo dentro dela apertou — mas era um aperto bom. Familiar. Quase aconchegante.
Ela ignorou. Ele também.
Porque, como em Horimiya, o romance deles não nasceria com confissões dramáticas ou gestos grandiosos. Ele crescia assim: entre cafés divididos, piadas compartilhadas e silêncios confortáveis.
E nenhum dos dois percebia — ainda.
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Fim do capítulo.