Capítulo 9 — "Calda de maçã e silêncios"
A cafeteria da universidade estava quase vazia. Era fim de tarde de uma sexta-feira, o sol entrava de lado pelas janelas amplas, criando linhas douradas no chão de madeira. Nick estava na fila, meio distraído, enquanto Nicole escolhia uma mesa perto da janela.
Ela parecia mais quieta naquele dia. O olhar distante, os dedos desenhando linhas invisíveis sobre a mesa. Quando ele voltou com dois cafés, deixou o dela na frente e se sentou.
— Você tá esquisita hoje. Tudo bem?
Nicole sorriu de leve, pegando o copo. — Só pensando… o semestre já tá passando tão rápido, né?
Nick apoiou o queixo na mão, encarando ela de um jeito que nem ele mesmo percebia. — Você se acostumou bem. Achei que fosse demorar mais pra se enturmar.
— Talvez tenha sido por causa de alguém que me puxou pra perto desde o primeiro dia. — ela disse, com um olhar significativo.
Os olhos de Nick encontraram os dela. Havia algo ali... uma atmosfera mais densa, mais suave ao mesmo tempo. As palavras pareciam desnecessárias naquele momento.
Nicole abaixou o olhar, como se percebesse que tinha dito mais do que devia.
— Se continuar me olhando assim, vou achar que tem alguma coisa errada comigo. — ela brincou, tentando tirar o peso do ar.
Nick riu baixinho, mas não tirou os olhos dela. — Tem sim. Você é esquisita. Mas... daquelas esquisitas boas de ter por perto.
Nicole deu um sorrisinho torto, balançando a cabeça. O silêncio que se seguiu foi... estranho. Não desconfortável, só... cheio. Cheio de algo que nenhum dos dois conseguia nomear. Um quase toque, um quase beijo... um quase tudo.
E foi exatamente nesse "quase" que a garçonete chegou com um pedaço de torta de maçã — só que errou a mesa e colocou em cima do caderno de Nicole, sujando tudo de calda.
— Aí não, moça... esse era meu novo projeto! — Nicole se levantou num pulo, pegando o caderno com uma expressão de desespero cômico.
Nick segurou o riso, tentando parecer solidário, mas claramente se divertindo. — Seu projeto agora virou sobremesa experimental. Arte interativa. Muito à frente do seu tempo.
Nicole deu um tapa leve no ombro dele. — Você não presta!
— Mas você riu. — ele disse, meio baixo, meio orgulhoso. E ela realmente riu. Daquelas risadas de fechar os olhos e esquecer do mundo por alguns segundos.
Quando se sentaram de novo, ainda rindo, a tensão do momento anterior parecia ter sumido. Mas a verdade era que ela só tinha se escondido entre as camadas de torta e palavras não ditas.
E nenhum dos dois percebeu... mas estavam cada vez mais presos naquele laço invisível que não se desfaz fácil.
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Fim do capítulo.