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Capítulo 13O dia em que ele apareceu

O dia em que ele apareceu

O calor estava no ponto certo: o suficiente pra suar sob o uniforme, mas com vento fresco o bastante pra não querer fugir.

Era sexta-feira, e a aula tinha terminado mais cedo por conta de uma reunião interna.

Ayaka saía da sala carregando o estojo e a garrafinha d’água.

Violet vinha atrás, com o moletom amarrado na cintura e o olhar meio distante, como sempre.

— “A mãe disse que alguém ia buscar a gente,” disse Ayaka.

— “Deve ser a Yuna,” respondeu Violet.

Mas quando passaram pelo portão...

Os colegas começaram a apontar.

— “É o BRZ da 2B!”

— “Aquele carro é LENDÁRIO.”

— “Mano, ele mora aqui mesmo?!”

— “O dono nunca aparece!”

Elas viram.

Estacionado em frente à escola, sob a sombra de uma árvore torta da pracinha ao lado...

o Subaru BRZ preto fosco, com wrap completo da 2B, detalhes prateados e traço artístico impecável, reluzia sob o sol.

Rodas esportivas. Vidros escuros.

Farol com detalhe azul.

E o emblema especial na traseira com o kanji de "YoRHa".

Era o carro que sempre esteve na garagem.

Mas... ninguém nunca tinha dado bola.

Porque o dono nunca estava lá.

Até agora.

Porque naquele momento… a porta do motorista se abriu.

E foi Nick quem saiu.

Casaco preto dobrado nos antebraços. Óculos escuros.

Barba por fazer.

Cabelo bagunçado como se tivesse acabado de tirar um headset.

Violet congelou.

Ayaka quase deixou a garrafinha cair.

Nick deu um tchauzinho casual, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

— “Bora?”

— “Pai…?”

Ayaka piscava como se tivesse sido puxada pra outra realidade.

Nick abriu o porta-malas com um toque, jogou a mochila das duas pra dentro.

— “O que foi? Nunca me viram de carro?”

Violet caminhou devagar até ele.

— “Na escola? Com isso? Hoje?”

— “Surpresa boa, né?”

Ela deu de ombros.

— “É… acho que sim.”

Os colegas ainda estavam boquiabertos.

Um deles tirava foto escondido. Outro sussurrava:

— “Esse cara é o dono? Jura que esse é o pai delas?”

Nick abriu a porta do passageiro.

— “Anda logo antes que alguém ache que sou figurante de evento.”

Ayaka entrou ainda confusa.

Violet entrou sem expressão — mas seus olhos falavam.

Nick olhou pras duas.

— “Fazia tempo que eu não buscava vocês, né?”

— “Anos,” disse Ayaka.

— “Talvez nunca,” murmurou Violet.

Nick sorriu, ligou o carro.

O ronco do motor fez algumas pessoas olharem outra vez.

— “A gente podia ir comer alguma coisa antes de ir pra casa. Que tal?”

As duas assentiram, quase sem pensar.

Nick olhou rápido pelo retrovisor.

Ele sorria.

Mas aquilo era mais que um sorriso.

Era um pedido silencioso de aproximação.

Era o gesto de alguém que estava tentando dizer:

“Eu me importo.”

Mesmo sem saber como.

Enquanto isso, no portão da escola, Yuna observava a cena com um olhar que misturava orgulho e… algo mais antigo.

Ela andou até o murinho da entrada e encostou com os braços cruzados.

Olhou o pátio vazio.

A árvore da quadra.

O chão ainda com as marcas da tinta desbotada do tempo.

Flash.

Viu Nick mais novo, de mochila caída no ombro, rindo de algo bobo que disse pra Nicole.

Flash.

Viu ela mesma, com uniforme largo demais, sendo apresentada à turma como “aluna nova”.

Flash.

Viu os três sentados juntos, na escadinha de trás da biblioteca, dividindo um pacote de bolacha e ouvindo música num MP3 velho.

Yuna suspirou.

— “De volta onde tudo começou…”

E então, com um sorrisinho irônico:

— “Ou talvez… onde tudo decidiu que ia continuar.”

Ela se virou e voltou pra dentro.

Mas não sem antes soltar, em voz baixa:

— “Ei, Nick…

Você realmente acha que consegue viver no mesmo lugar onde foi desenhado?"

Fim do Capítulo 13