Voltar

Capítulo 17Coisas que esperam

Coisas que esperam

O sábado amanheceu nublado, com cheiro de café no corredor.

Ayaka acordou antes do despertador.

Olhou pro criado-mudo.

A caixinha azul ainda estava lá.

Fechada. Intacta.

Mas parecia... vibrar.

Como se dentro dela morasse uma pergunta.

Violet estava deitada de lado, os olhos abertos há um tempo.

— “Você sonhou com a caixa?”

Ayaka virou o rosto.

— “Você também?”

— “Não com ela. Mas... com o que tem dentro.”

Ayaka se sentou.

Passou os dedos nos cabelos ainda desgrenhados.

— “Se a gente abrir antes do domingo, ele vai saber.”

— “E se não for só um presente?”

— “E se for?”

As duas ficaram em silêncio.

O céu lá fora ameaçava chuva.

E o dia parecia… esperar algo também.

Na cozinha, Nicole estava lavando louça com a janela aberta.

Yuna apareceu encostada no batente da porta, com uma xícara de chá roubado e o moletom do Nick.

— “Tá bonita hoje,” disse Yuna, com aquele sorriso de quem tá implicando.

— “Você só diz isso quando quer algo.”

— “Tô de boas. Só... pensando.”

Nicole a olhou de canto.

— “Pensando em...?”

— “Naquelas meninas. No Nick. Na cidade.”

— “É raro você juntar esses três assuntos sem vinho.”

Yuna tomou um gole do chá e fez cara de quem não gostou — mas continuou bebendo.

— “Você sabia que... quando o Nick me apresentou vocês lá no colégio, eu nunca imaginei que ele ia ser o tipo de pai que esconde coisa?”

Nicole parou.

Secou as mãos no pano.

— “Ele não esconde.”

— “Ele guarda.”

— “Com força,” completou Nicole.

Yuna olhou pela janela.

— “Elas estão começando a sentir o tamanho da sombra que o pai delas projeta. Mas ainda não sabem o que é que tá tapando o sol.”

— “E quando descobrirem?”

Nicole suspirou.

— “Ou vão se assustar... ou vão entender que estavam embaixo dessa sombra o tempo todo, só não tinham olhado pra cima.”

Yuna mordeu o lábio.

— “Elas vão abrir as caixas amanhã, né?”

Nicole não respondeu.

Mas sorriu.

Aquele sorriso de quem sabe que o tempo...

já decidiu por elas.

No quarto, Ayaka estava deitada, a caixa no colo.

Violet sentada na escrivaninha, desenhando algo no canto da agenda.

— “O que você acha que ele vai dizer quando a gente abrir?”

— “Que já sabia que a gente não ia esperar.”

— “Mas a gente tá esperando.”

Violet riu.

— “Então ele vai dizer que sabia que a gente ia tentar esperar e conseguir.”

Ayaka virou a caixa entre os dedos.

— “Você acha que ele quer que a gente descubra?”

— “Não agora.”

— “Mas por quê?”

Violet parou de desenhar.

Olhou pra irmã.

— “Talvez porque o que ele quer mostrar... muda tudo.”

Fim do Capítulo 17