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Capítulo 16O que fica

O que fica

Nick já tinha deixado a mochila pronta na noite anterior.

Dessa vez, não era só mala — era um case reforçado, cheio de papéis, pastas e envelopes com carimbos que ninguém reconhecia.

O BRZ estava estacionado do lado de fora, com o porta-malas aberto.

Nicole observava da varanda, tomando café.

Na sala, Violet e Ayaka estavam no sofá, fingindo ver TV — mas o canal nem estava certo.

Nick entrou, carregando duas caixas pequenas, embaladas com papel opaco e fita azul.

— “Antes de ir... queria deixar isso com vocês.”

As duas se entreolharam.

— “Presentes?” perguntou Ayaka.

— “É,” respondeu Nick. “Tipo isso. Mas... não abram agora. Esperem o fim de semana.”

— “Por quê?” Violet olhou com desconfiança.

— “Só... esperem. Não é nada demais.”

Nicole riu da cozinha.

— “Você é péssimo com mistério.”

— “Por isso mesmo eu tento,” disse ele, sorrindo torto.

Nick se aproximou das filhas. Ajeitou a franja da Ayaka. Apertou de leve o ombro da Violet.

— “Eu sei que não tô sempre por perto. E sei que às vezes vocês acham que eu sou um fantasma.”

— “A gente não acha isso,” respondeu Violet, depois de um silêncio estranho.

Nick não insistiu.

— “Mas eu quero que vocês saibam... que mesmo quando eu não tô aqui — eu tô. De verdade. Em cada canto dessa casa. Em cada detalhe besta. Tipo... o barulho do PC ligado. Ou a xícara torta na prateleira.”

Ayaka segurava a caixa com mais força.

— “Você vai ficar quanto tempo fora?”

— “Três dias. No máximo.”

— “Com o Murata?”

— “É.”

Violet desviou o olhar.

— “Manda lembrança pra ele.”

Nick riu.

— “Mando. Ele perguntou se vocês ainda desenham.”

As duas olharam pra ele.

Mas não responderam.

Depois que Nick partiu, Nicole limpava a cozinha com calma.

Mas de canto de olho, via as duas indo devagar até o escritório.

Ayaka empurrava a porta com cuidado.

Violet segurava a caixa azul no peito.

— “A gente só vai olhar. Não vamos abrir agora,” disse Ayaka.

— “Eu sei.”

Elas entraram.

A luz estava desligada, mas o reflexo dos monitores no modo descanso iluminava o ambiente.

Ayaka passou o dedo pela estante.

Violet encostou na mesa e olhou os desenhos pregados com imãs.

Nicole apareceu na porta, encostada, sem ser vista.

Assistia tudo em silêncio.

Viu Ayaka olhar pro porta-canetas, onde havia uma caneta tinteiro idêntica à dela — mas com o nome dela gravado, muito pequeno.

Viu Violet tocar na base do monitor e ver um wallpaper com um esboço…

um desenho que ela nunca tinha mostrado pra ninguém.

Mas que, de alguma forma, estava ali.

As duas pararam.

Olharam uma pra outra.

Não disseram nada.

Nicole, encostada na porta, apenas sorriu.

Um sorriso calmo, cúmplice, mas cheio de saudade.

Depois virou-se, caminhando de volta pro corredor.

— “Ainda não é hora,” disse, pra si mesma.

Mas… ela sabia.

A hora estava vindo.

Fim do Capítulo 16