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Capítulo 27O nome na porta

O nome na porta

O dia começou sem promessas.

Nicole apareceu com a chave do carro na mão e um café gelado na outra.

— “Hoje a gente vai dar uma volta.”

Ayaka bocejou.

— “Evento?”

— “Não.”

Violet ergueu uma sobrancelha.

— “Compras?”

Nicole sorriu.

— “Estúdio.”

As duas se entreolharam.

— “Do pai?”

— “Do pai... e da mãe.”

O carro atravessava Tóquio com menos ruído que o normal.

O céu estava limpo. A cidade viva.

Mas dentro do RX-8, só o som da playlist instrumental que Nicole dizia que “ajuda a pensar”.

Quando chegaram, o prédio era discreto.

Três andares. Fachada minimalista. Nenhuma placa grande.

Somente um letreiro prateado em japonês e inglês:

Studio Kuuhaku

空白 – Where stories begin.

Ayaka leu em voz alta.

— “Kuuhaku?”

Nicole olhou pelo espelho.

— “Significa espaço em branco.”

Violet sorriu de leve.

— “Combina com vocês.”

Nicole apenas estacionou.

A recepcionista se levantou assim que viu Nicole.

「あっ、ニコルさん!おかえりなさい!」

“Nicole-san! Bem-vinda de volta!”

Nicole acenou de leve.

「娘たちも一緒よ。」

“Trouxe as minhas filhas.”

As duas congelaram.

A recepcionista inclinou a cabeça com respeito exagerado para Violet e Ayaka.

「はじめまして!光栄です!」

“Prazer em conhecê-las! É uma honra!”

Ayaka cochichou:

— “O que ela disse?”

Nicole:

— “Que tá feliz em conhecer vocês.”

— “Com esse nível de reverência?”

— “Japoneses são educados.”

Conforme subiam as escadas, funcionários passavam por elas sorrindo, acenando, alguns inclinando a cabeça ao ver Nicole.

Outros murmuravam coisas que elas não entendiam:

「本物のニコルさんだ…」

“É a Nicole de verdade...”

「娘さんたちも来てるって…」

“As filhas também estão aqui mesmo?”

「これで何か変わるかもね…」

“Talvez as coisas mudem a partir de agora...”

Ayaka e Violet estavam em choque.

— “Eles conhecem você…”

— “Você… manda aqui?”

Nicole riu.

— “Mando em mim. Às vezes nos outros.”

Ela parou em frente a uma porta dupla no segundo andar.

Passou o crachá. Abriu.

Luz natural.

Mesa grande de vidro.

Três monitores enormes.

Livros de arte. Roteiros impressos.

Paredes com quadros — assinados por Nicole e Nick.

Do lado, uma mesa de pintura tradicional.

Ao lado oposto, uma estante com action figures lacradas.

No centro da sala, uma parede de vidro iluminada com vários pôsteres…

Todos de projetos famosos.

Todos com o nome deles nos créditos principais.

Violet soltou um “...meu Deus” quase inaudível.

Ayaka andava devagar, como se pisasse em solo sagrado.

Nicole fechou a porta atrás delas.

Deixou o silêncio tomar conta.

Ayaka tocou em um troféu de acrílico com o símbolo da Animage.

“Character Designer of the Year – N. & N. (Kuuhaku Studio)”

— “Isso é de vocês?”

Nicole assentiu.

— “Tudo.”

Violet olhava pro quadro da arte conceitual de um anime que ela amava desde os 14.

— “Você desenhou isso…”

Nicole se aproximou.

Colocou a mão no ombro dela.

— “Eu pintei. Seu pai desenhou.

A gente fez junto.

Como sempre.”

Ayaka virou com os olhos arregalados.

— “Você é tipo… uma lenda.”

Nicole apenas sorriu.

— “E seu pai é pior.”

As duas ficaram em silêncio.

Andaram mais.

Tocaram nos livros.

Sentaram na cadeira do pai.

Viram o sketchbook com autógrafos de artistas que só conheciam de entrevistas.

E ali, com o coração disparado, olharam uma pra outra.

E entenderam.

Ele não era só o pai que ria baixo e cortava peixe na janta.

Ele era o cara que fazia os mundos que elas se refugiaram a vida toda.

E a Nicole?

Era a mulher que segurava tudo com um sorriso.

Que traduzia o mundo sem nunca explicá-lo por completo.

Mas que agora, deixava tudo bem claro.

Violet sussurrou:

— “A gente tava cega.”

Ayaka respondeu:

— “A gente tava protegida.”

Nicole pegou um envelope da gaveta.

Entregou às duas.

— “Ele deixou isso aqui. Disse que era pra depois do choque.”

As duas abriram.

Dentro, dois passes.

Com crachás especiais.

“Kuuhaku – Artist Access”

Nome: Violet / Ayaka

Setor: Next.

Fim do Capítulo 27