Capítulo 29 — Violet — Entre Linhas e Sorrisos
Violet — Entre Linhas e Sorrisos
Violet ficou no corredor por alguns minutos depois que Ayaka foi explorar.
Não porque não queria andar também.
Mas porque...
ela sentia que precisava de tempo.
Cada parede, cada sala envidraçada, cada pôster assinado —
parecia gritar uma história que ela ainda não tinha lido.
Ela andou devagar.
Pelas salas abertas, viu cenas animadas fluindo como água.
Linhas digitais dançavam nas telas, como se respirassem.
Tudo era... vivo.
E, estranhamente, tudo tinha um molho, uma assinatura invisível que Violet não sabia explicar —
mas sentia.
Parou na sala de rascunhos.
Havia mesas gigantes, cobertas de folhas soltas, layouts de cenas, modelos de movimentação de personagens.
Em um dos monitores:
um loop de animação de uma garota pulando num telhado.
A fluidez era tão perfeita que Violet quase chorou.
Era como ver emoção pura transformada em movimento.
—
Enquanto olhava maravilhada, três funcionários se aproximaram.
Dois rapazes jovens, uma moça de cabelo tingido de verde claro.
Todos sorrindo.
Falando animadamente em japonês.
「あなたがヴァイオレットさん?すごい、初めまして!」
“Você é a Violet? Nossa, prazer em conhecê-la!”
「ニックとニコルの娘なら、きっと素晴らしい目を持っているね!」
“Se é filha do Nick e da Nicole, deve ter um olhar incrível para arte!”
Violet travou.
Olhou pros lados.
— “Ah, droga… o Ayaka tem o aplicativo…”
Antes que pudesse tentar gesticular alguma coisa, uma voz conhecida ecoou pelo corredor:
— “OOOOI MEUS AMORES ANALFABETOS EM JAPONÊS!”
Yuna.
De mochila nas costas, moletom largo, boné virado pra trás, e o mesmo sorriso safado de sempre.
Violet arregalou os olhos.
— “TIA YUNA?!”
Os funcionários — todos — imediatamente pararam.
Se endireitaram.
Se curvaram profundamente para Yuna.
「湯名先生、お疲れ様です!!」
“Yuna-sensei, obrigado pelo trabalho duro!!”
「いつも素晴らしいアニメーションをありがとうございます!」
“Obrigado pelas animações maravilhosas de sempre!”
Violet piscava rápido, tentando processar.
Yuna jogou a mochila num canto e respondeu num japonês todo solto e debochado:
「やめろやめろ!そんなに拝まないで!私はただの最高の存在だから!」
“Para com isso, para de se curvar tanto! Eu só sou o melhor ser humano do universo, nada demais!”
Violet ficou de boca aberta.
Yuna se virou pra ela e, com o maior naturalidade do mundo, traduziu:
— “Eles tão dizendo que eu sou um anjo, a reencarnação da perfeição e a responsável pela alma desse estúdio.”
Violet:
— “...o quê?”
Yuna deu risada, piscando.
— “Em resumo: eu sou diretora de animação principal aqui, amor.”
Violet sentou na cadeira mais próxima, atordoada.
Yuna se inclinou na frente dela.
— “Surpresa! A tia Yuna não é só aquela maluca que assa marshmallow errado nas fogueiras de fim de semana! Eu sou a cabeça das cenas mais fluidas que vocês já viram na TV, bebê.”
— “Cenas tipo…”
— “Tipo todos aqueles animes que você AMA e que fala ‘nossa, a animação dessa luta é absurda!’. Pois é. Eu.”
Violet colocou a mão na boca.
Yuna continuou, agora um pouco mais suave:
— “Eu sou diretora de movimento. De composição. O molho. A alma.
Quem desenha lindo é seu pai.
Quem pinta as emoções é sua mãe.
Mas quem faz tudo viver... sou eu.”
Violet olhou pros funcionários.
Eles a olhavam com admiração pura.
Yuna apontou pra eles.
— “E esses pôneis aqui são minha tropa de elite. Todo mundo aqui aprendeu a desenhar chuva, vento e cabelo bagunçado comigo.”
Os funcionários riram, confirmando.
Violet respirou fundo.
O mundo parecia girar devagar.
— “Então… você também é parte disso tudo.”
Yuna se sentou no chão, abraçando os joelhos.
— “Amor… eu sou a cola invisível.”
— “Por que ninguém contou antes?”
Yuna deu de ombros.
— “Porque a história boa precisa ser vivida antes de ser entendida, Violet.”
Silêncio.
Violet olhou para a sala ao redor.
Para as telas.
Para o brilho nos olhos dos funcionários.
Para a Yuna — não a tia boba, mas a mestra das cenas que sempre a fizeram chorar de emoção.
E sentiu.
Finalmente sentiu.
Ela fazia parte disso.
Sempre fez.
Só não sabia até agora.
—
Fim do Capítulo 29